domingo, 26 de dezembro de 2010

Amplexo


Eu não estava disposta a acordar cedo e comparecer àquela cerimônia, mas algo me expulsou da cama e me fez caminhar até lá.

Chegamos ao mesmo tempo e ele estava abraçando minha mãe, mas não me cumprimentou...
Fiquei lá e cerca de 20 minutos depois ele retornou e com ele veio a lembrança do dia em que nos conhecemos, pois estávamos no mesmo local onde tudo começou, onde nossos olhares se cruzaram e esse sentimento teve início.
Ao fim da cerimônia ele me cumprimentou, me deu um abraço tão acolhedor, quente e aconchegante... E nele eu me entreguei, me deixei sentir e levar por aquele momento que eu esperava há alguns meses.
Procurei transmitir pelos meus braços e peito aquilo que estava transbordando aqui dentro: o amor, o carinho, a saudade, a vontade de tê-lo por perto novamente e eternamente. Senti que não fui a única a transmitir tais sentimentos, aqueles braços ao me envolver diziam que sentiam falta de ter-me em meio a eles novamente... E ele me apertou, e eu retribui!
Pode ser que tenha sido apenas um abraço sem maiores pretensões, um gesto de carinho pelo que vivemos. Talvez não seja nada disso, talvez de tanto acreditar que ele ainda tenha algum sentimento por mim, eles acabaram sendo incutidos naquele ato, e eu, de fato, acreditei e naquele instante voei... Voei com ele, como costumava ser.. só nós dois e o nosso mundo!
E eu quero de volta, apesar de dizer que não nasci pra ter relacionamentos, que não quero casar. Com ele tudo muda, tudo é sublime, tudo sou eu, tudo é ele e tudo somos nós... nós...
E no lugar onde nos conhecemos, onde nosso sentimento nasceu, renasceu a esperança de tê-lo novamente!
Ele com seus amplexos e ósculos e sua totalidade!
Eu o quero... Eu o amo!





Amplexo (voz)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ferida

Existem erros que cometemos que mesmo sendo perdoados pelas "vítimas" deles, não conseguimos perdoar-nos.
É muito difícil ver que você se transformou em algo que até então você tinha repulsa, que você condenava brutalmente.
E foi isso que aconteceu e está acontecendo... eu parei para olhar o que tenho feito, com quem e para quem tenho feito, e então eu vi... vi e me assustei!
Como eu pude me tornar isso? Como? Onde começou a sucessão de erros que vem acontecendo há aproximadamente um ano?
Estou tentando ser mais altruísta, abandonando a idéia de que o universo gira em torno de mim, de que só eu tenho sentimentos, de que todos devem ficar se preocupando somente comigo e nada mais...
Ela me fez ver isso e despertou em mim a vontade de mudar. Ou melhor, meu erro com ela desencadeou tudo isso.
É algo imperdoável para mim, existem pessoas que acham exagero, mas eu não me perdôo e nem sei se um dia conseguirei me absolver de tal ato (nem se ela me absolverá).
O mais doloroso não é o ato em si, mas a conseqüência dele, a perda...
Jamais poderia ter errado com ela... jamais.
Só eu sei a falta que ela me faz, o quanto ela é necessária na minha vida, o quanto me dói não conversar com ela e o quanto dói conversar... a cada conversa é como se voltássemos à primeira logo depois do ato e eu desmorono, a dor se exterioriza, o sal corrompe a ferida que não cicatriza e espero que isso não ocorra para que quando eu olhá-la eu veja o quanto eu a mereço...
Doeu. Dói. Doerá!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Eu sou Ofélia...

à Simone Braghin


"Eu sou Ofélia.
Aquela que o rio não conservou
A mulher na forca
A mulher com as veias abertas
A mulher com overdose
SOBRE OS LÁBIOS DE NEVE
A mulher com a cabeça no fogão a gás.
Ontem deixei de me matar.
Estou só com meus seios,
minhas coxas,
meu ventre.
Destruí os instrumentos do meu cativeiro
a cadeira
a mesa
a cama.
Destruo o campo de batalha que foi meu lar.
Escancaro as portas para que o vento possa entrar e o grito do mundo.
Despedaço a janela.
Com as mãos sangrando rasgo as fotografias dos homens que amei e que se serviram de mim sobre a cama
a mesa,
sobre a cadeira
sobre o chão.
Toco fogo na minha prisão.
Atiro minhas roupas ao fogo.
Exumo do meu peito o relógio que era meu coração.
Vou para a rua vestida em meu sangue."


(Ofélia em Hamlet-Machine, de Heiner Müller)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Partindo :'(

E se meu coração parasse agora, não faria diferença... Tudo já parou!
Eu parei e não vejo motivos para insistir nessa jornada na qual tudo está errado!
Não há motivos para persistir nas feridas, tanto nas minhas quanto na dos outros!
Não há motivos... nem vontade!

Monstro

Alguém a capture e a coloque em uma redoma, não por ser ela uma santa, mas por ser alguém nocivo,
Alguém que precisa estar sob observação para que não fira ninguém,
Alguém que necessita de limites muito bem estabelecidos,
Alguém que precisa aprender a ser gente e a conviver com gente.
Mas por que não matá-la de uma vez já que é tão perigosa?
Simplesmente por ser isso o que ela mais anseia, a morte.
Não devemos satisfazê-la, devemos castigá-la,
Fazer com que ela sinta toda a dor que causou,
Que ela beba todas as lágrimas que caíram por sua causa
E que todo esse sal a faça secar aos poucos, lentamente,
Para que ela sofra de forma intensa.
O que ela tem feito de tão errado para merecer tal fim?
Ela se tornou o ser mais desprezível,
mais frio e calculista,
dissimulado e egoísta.
Não pode-se nem ao menos compará-la a um animal, pois este ainda tem sentimentos...
Ela não os tem, é seca, vazia...
O que ela tem?
Nada.
O que ela merece?
Nada...