terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Eu sou Ofélia...

à Simone Braghin


"Eu sou Ofélia.
Aquela que o rio não conservou
A mulher na forca
A mulher com as veias abertas
A mulher com overdose
SOBRE OS LÁBIOS DE NEVE
A mulher com a cabeça no fogão a gás.
Ontem deixei de me matar.
Estou só com meus seios,
minhas coxas,
meu ventre.
Destruí os instrumentos do meu cativeiro
a cadeira
a mesa
a cama.
Destruo o campo de batalha que foi meu lar.
Escancaro as portas para que o vento possa entrar e o grito do mundo.
Despedaço a janela.
Com as mãos sangrando rasgo as fotografias dos homens que amei e que se serviram de mim sobre a cama
a mesa,
sobre a cadeira
sobre o chão.
Toco fogo na minha prisão.
Atiro minhas roupas ao fogo.
Exumo do meu peito o relógio que era meu coração.
Vou para a rua vestida em meu sangue."


(Ofélia em Hamlet-Machine, de Heiner Müller)

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