Nem sempre o que começa a dar errado, termina errado... e naquela sexta-feira foi assim.
O tempo permaneceu nublado durante a tarde e ela rezava para que não chovesse à noite, rezava também para que a cabeleireira não atrasasse, mas como nada é perfeito, o celular fez questão de tocar e a voz do outro lado anunciou que havia a necessidade de uma mudança de horário, ela só poderia atendê-la duas horas depois do combinado.
À partir daquele momento o nervosismo a consumiu e foi aí que o tempo fechou, literalmente, o céu se desfez em águas e essas inundaram as esperanças da garota que tinha um encontro naquela noite e que parecia se distanciar da realidade e se aproximar das fronteiras oníricas.
Chegou na cabeleireira e ela estava atrasada. Uma hora a mais de ansiedade, uma hora a mais que os dois esperariam.
Ela ligou para ele no horário combinado e por sorte ele também estava atrasado. Esse atraso foi bom, assim ela pôde recuperar a calma, focar no seu objetivo e sorrir, afinal tudo estava entrando nos eixos novamente.
Enquanto terminava de se arrumar o celular tocou e era ele avisando que estava a caminho e a ansiedade a tomou novamente. Ela não sabia o que falar e muito menos como agir, se sentiu uma garotinha prestes a ter seu primeiro encontro.
Então ela se vestiu de coragem e deixou suas máscaras sobre a cama, só havia a necessidade de que ele a visse como ela realmente é, sem ter que usar uma de suas personagens para se defender, para se sentir mais forte e interessante.
Logo que a viu, ele a elogiou e foi nesse momento que ela se sentiu mais à vontade pois percebeu que naquela noite ele havia se despido de sua timidez.
Sem saber o que fazer e sem destino pré-estabelecido, decidiram ir a uma praça qualquer, que por sinal estava lotada de adolescentes que exalavam fumaças de Cannabis Sativa para manter a mente ativa, mas toda aquela atividade os incomodava, então resolveram procurar outro lugar para que pudessem ficar a sós.
Conseguiram por fim encontrar um lugar ermo, ou quase ermo, não fosse a presença de um outro veículo, cujos passageiros provavelmente nem notaram a chegada dos novos amantes.
Procuraram no carro algum jeito de ficarem confortáveis, não que fosse para conversar, mas para algo que dispensa léxico, ou até o aceita, mas com certas restrições.
Naquele momento ela percebeu que não havia em si nem sequer resquícios de Shane, nada de "aprendi a me virar sozinha e se eu tô te dando linha é pra depois te abandonar", ela não queria abandoná-lo, e sim se abandonar naqueles braços nos quais ela havia reencontrado a liberdade para voltar a ser aquela garota frágil, sentimental e insegura.
Havia ali a descoberta, o conhecer, a reciprocidade. Havia duas pessoas receosas uma da outra, receosas de si mesmas, de seus sentimentos, mas havia também a vontade de lutar contra si, contra o outro... havia a vontade da entrega, e se essa não fosse total de ambas as partes, pelo menos de uma era.
Nada poderia atrapalhar aquele momento, nem as pessoas e carros passando, nem o celular tocando. Nada poderia impedir nos dois a vontade de ser um só, de se unirem pela pele, pelo corpo, pelo suor.
Sem que eles percebessem o tempo passava e a hora de retornar à realidade se aproximava, mas o desejo (ou quem sabe até algo mais) os tomava.
Aproveitaram que seus corpos conseguiram se desvencilhar e recuperando a lucidez colocaram-se à caminho da casa dela. Chegando lá, apesar da necessidade de separação, havia a vontade de nova junção, de um novo laço que acabasse em um nó, um nó cego como os momentos em que eles se sentiram.
Ficou a vontade de quero mais, tanto no texto como "Nela" ou em ambos!
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