segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A primeira noite

Nem sempre o que começa a dar errado, termina errado... e naquela sexta-feira foi assim.
O tempo permaneceu nublado durante a tarde e ela rezava para que não chovesse à noite, rezava também para que a cabeleireira não atrasasse, mas como nada é perfeito, o celular fez questão de tocar e a voz do outro lado anunciou que havia a necessidade de uma mudança de horário, ela só poderia atendê-la duas horas depois do combinado.
À partir daquele momento o nervosismo a consumiu e foi aí que o tempo fechou, literalmente, o céu se desfez em águas e essas inundaram as esperanças da garota que tinha um encontro naquela noite e que parecia se distanciar da realidade e se aproximar das fronteiras oníricas.
Chegou na cabeleireira e ela estava atrasada. Uma hora a mais de ansiedade, uma hora a mais que os dois esperariam.
Ela ligou para ele no horário combinado e por sorte ele também estava atrasado. Esse atraso foi bom, assim ela pôde recuperar a calma, focar no seu objetivo e sorrir, afinal tudo estava entrando nos eixos novamente.
Enquanto terminava de se arrumar o celular tocou e era ele avisando que estava a caminho e a ansiedade a tomou novamente. Ela não sabia o que falar e muito menos como agir, se sentiu uma garotinha prestes a ter seu primeiro encontro.
Então ela se vestiu de coragem e deixou suas máscaras sobre a cama, só havia a necessidade de que ele a visse como ela realmente é, sem ter que usar uma de suas personagens para se defender, para se sentir mais forte e interessante.
Logo que a viu, ele a elogiou e foi nesse momento que ela se sentiu mais à vontade pois percebeu que naquela noite ele havia se despido de sua timidez.
Sem saber o que fazer e sem destino pré-estabelecido, decidiram ir a uma praça qualquer, que por sinal estava lotada de adolescentes que exalavam fumaças de Cannabis Sativa para manter a mente ativa, mas toda aquela atividade os incomodava, então resolveram procurar outro lugar para que pudessem ficar a sós.
Conseguiram por fim encontrar um lugar ermo, ou quase ermo, não fosse a presença de um outro veículo, cujos passageiros provavelmente nem notaram a chegada dos novos amantes.
Procuraram no carro algum jeito de ficarem confortáveis, não que fosse para conversar, mas para algo que dispensa léxico, ou até o aceita, mas com certas restrições.
Naquele momento ela percebeu que não havia em si nem sequer resquícios de Shane, nada de "aprendi a me virar sozinha e se eu tô te dando linha é pra depois te abandonar", ela não queria abandoná-lo, e sim se abandonar naqueles braços nos quais ela havia reencontrado a liberdade para voltar a ser aquela garota frágil, sentimental e insegura.
Havia ali a descoberta, o conhecer, a reciprocidade. Havia duas pessoas receosas uma da outra, receosas de si mesmas, de seus sentimentos, mas havia também a vontade de lutar contra si, contra o outro... havia a vontade da entrega, e se essa não fosse total de ambas as partes, pelo menos de uma era.
Nada poderia atrapalhar aquele momento, nem as pessoas e carros passando, nem o celular tocando. Nada poderia impedir nos dois a vontade de ser um só, de se unirem pela pele, pelo corpo, pelo suor.
Sem que eles percebessem o tempo passava e a hora de retornar à realidade se aproximava, mas o desejo (ou quem sabe até algo mais) os tomava.
Aproveitaram que seus corpos conseguiram se desvencilhar e recuperando a lucidez colocaram-se à caminho da casa dela. Chegando lá, apesar da necessidade de separação, havia a vontade de nova junção, de um novo laço que acabasse em um nó, um nó cego como os momentos em que eles se sentiram.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Um novo dia!


Aprisionada num corpo mediano,
com uma alma imensurável, 
de uma inquietude e complexidade inenarrável,
a garota segue sem rumo.

Livre de qualquer pré conceito,
de qualquer mágoa,
de qualquer receio
ela segue e se perde.

Se perde naquilo que julga ser ela,
que julga ser dela,
que julga ser tela,
naquilo que revela.

Se acha naquilo que a invade,
a desola,
a consola,
a trespassa,
a arrasa,
a encoraja,
aquilo que não a torna covarde.

Ela se sente,
mente,
atua,
sua,
nua, 
na rua.

Ela chora,
implora, 
demora,
ora...
e agora?

Agora ela demora 
contando a hora
do momento da aurora
que a devora
e implora:
Seja livre
e  seja agora!